quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Educação integral ou tempo integral: qual a diferença?


No dia 28 de abril, comemora-se o Dia Nacional da Educação e uma das propostas do Plano Nacional de Educação (PNE), que está em análise no Congresso Nacional e estabelece a política educacional para o decênio 2011-2020, é que 50% das escolas públicas de Educação Básica desenvolvam suas atividades em jornada ampliada até 2020.
É preciso, contudo, compreender melhor o que significa esse esforço pela ampliação da jornada nas escolas e pela diversificação das atividades educativas oferecidas a meninos e meninas.
Mais tempo na escola?

Uma das principais metas do Plano Nacional da Educação, instituído em 2001, é a ampliação da jornada escolar para um período mínimo de sete horas. Embora se trate de uma prática comum em países desenvolvidos, ela pode não significar uma melhoria automática do sistema educacional brasileiro. “Não basta aumentar o tempo. Até porque, se você aumentar o tempo de funcionamento de uma escola em que as condições são muito precárias, você está aumentando o tempo de uma aprendizagem precária, e não resolve”, explica coordenadora do Programa de Educação do Unicef Brasil, Maria de Salete Silva.
É nesse cenário que os diversos atores ligados à educação buscam a articulação entre a escola em tempo integral – jornada ampliada – com atividades de Educação Integral. “A ampliação do tempo não significa necessariamente a Educação Integral. Nós temos o cuidado de trabalhar uma Educação Integral que persiga a formação e o desenvolvimento humano mais amplo e múltiplo possível, sem esquecer a base do currículo”, afirma a diretora de Educação Básica do Ministério da Educação, Jaqueline Moll.

Formação ampla e articulada

Apesar de o conceito de Educação Integral ainda estar em construção, ele pode ser entendido como um ensino que possibilita uma formação mais completa para o aluno enquanto ser humano e não apenas como estudante. Trabalhar com essa perspectiva significa conciliar os conteúdos didáticos com outros aspectos da vida.
Segundo a pesquisadora e gerente de projetos do Centro de Estudo e Pesquisa em Educação (Cenpec), Maria Estela Bergamin, as crianças devem ser incentivadas a desenvolver diferentes formas de expressão, como a artística, física, intelectual, digital e social. “É importante não ficar preocupado só com os conteúdos. As crianças e adolescentes precisam ser formados em atitudes e valores que caminhem para a tolerância e a participação na vida pública, uma preocupação com o coletivo”, explica.
Mas é necessário que essas atividades sejam integradas com os conteúdos escolares tradicionais. Não adianta a jornada ser ampliada se o aluno pensar separadamente: de manhã aula regular e, à tarde, atividades de Educação Integral, ou vice-versa. “Não são dois mundos separados, e o professor tem um papel importantíssimo de fazer esta articulação”, afirma Maria de Salete.
Diferentes atores em diálogo

As formas de se trabalhar Educação Integral podem variar em função do contexto, das necessidades e das características da comunidade e dos próprios estudantes. Segundo Estela Bergamin, o planejamento dessas ações tem de partir da cultura local e do repertório dos alunos. A partir daí, é possível expandir as opções de atividade e fazer pontes com outras referências culturais.
Para ampliar o diálogo com o contexto de vida de meninos e meninas, a Educação Integral não deve ficar restrita ao espaço escolar. Muito pelo contrário, espaços fora da escola, como parques, praças e museus, também podem ser aproveitados como ambientes de aprendizagem. “A escola pode fazer parcerias com ONGs, com programas de outras secretarias, com clubes… Estes outros atores podem ser tanto do poder público, quanto de instituições da sociedade civil”, afirma Estela Bergamin.
Formação da criança e participação do jovem

O Projeto Noutro Turno é uma interessante iniciativa nesse sentido. Desenvolvida pelo Instituto Formação em dez municípios na baixada maranhense – região localizada na área da Amazônia Legal que conta com os piores indicadores de desenvolvimento humano do Maranhão e altos índices de analfabetismo.
O programa foi criado em 2006. Apoiado pelo Unicef, faz parte do Conjunto Integrado de Projetos Jovem Cidadãodo Instituto. Desde 2003, a entidade já trabalhava fortemente com os jovens da região, principalmente em atividades de formação e sensibilização em temas como cultura digital, artes, educação física, leitura e literatura, saúde, ecologia humana e línguas estrangeiras. Tudo isso junto com os Fóruns da Juventude e com os dirigentes municipais, articulados no Portal da Educação.
Resultado destas ações com jovens do ensino médio, o Projeto Noutro Turno começou em 2006. A ideia foi transformar alguns deles – que passaram por processo seletivo – em multiplicadores do conhecimento adquirido ao longo destes anos. No período da tarde, as crianças que estudam no ensino fundamental ou infantil vão até a escola e de lá saem para outros lugares, acompanhados destes monitores jovens, que estão orientados para promover jogos, educação física e atividades de música, teatro, dança, leitura e escrita, ecologia humana, internet, inglês e espanhol.
“O interessante é que usamos telecentros, quadras de esporte, parques, praças, ruas da cidade,  espaços de clubes e de igrejas, e até mesmo os quintais das casas dos alunos para essas atividades educacionais. Com isto se cria formação educacional e novos espaços de convivência em que o aprendizado entra a partir do lazer, da brincadeira”, diz Regina Cabral, coordenadora de projetos do Instituto Formação.
Segundo Regina, as atividades ainda continuam na região, mas agora com coordenação das secretarias municipais de Educação e dos Fóruns de Juventude. Desde 2006, cerca de 200 crianças em cada uma das dez cidades já participaram do programa. “Os jovens de ensino médio que se tornaram aprendizes puderam aplicar o seu conhecimento de maneira lúdica e as crianças ampliaram bastante o seu potencial. A lógica da complementação do horário escolar nesta região do Maranhão era do reforço escolar, das aulas particulares. A partir destas atividades, envolvendo arte, esporte e leitura, o trabalho com o desenvolvimento da vontade de conhecer se fortaleceu. A inclusão é pelo lazer e pela convivência com os amigos em outros espaços da cidade”, explica Regina.
Programa Mais Educação

O Programa Mais Educação tem o objetivo de aumentar a oferta de atividades educativas complementares nas escolas públicas. Criado pela Portaria Interministerial nº 17/2007, o Programa é coordenado pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad/MEC), em parceria com a Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC) e as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação. Atualmente, 2,2 milhões de estudantes participam do Programa, e a expectativa é ampliar para três milhões ainda em 2011. “Construímos uma agenda que privilegia as escolas de menor Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), regiões de maior vulnerabilidade social, para pouco a pouco chegar à universalização”, afirma Jaqueline Moll.


Professor ainda vê o computador como intruso na sala de aula


Especialistas dizem que medo de ser substituído e indisposição para adaptar estratégias de ensino dificultaria uso de tecnologia…
A revolução tecnológica que coloca computadores, tablets e celulares nas mãos de jovens e crianças de todo o mundo não é vista com bons olhos pela maioria dos professores brasileiros, principalmente os de universidades públicas. A opinião é do presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância, Frederic Litto, e é compartilhada por vários outros especialistas. Para eles, o professor brasileiro ainda vê o computador como um intruso em sua aula.
“Os professores não aceitam que essa não é mais uma sociedade de escassez, mas sim de abundância de informação. Por isso o Brasil, está atrasado”, diz Litto, comparando as universidades brasileiras com estabelecimentos de ensino do exterior. Lá fora, diz ele, é comum a prática de disponibilizar pesquisas e conteúdo de aulas na internet.
Um exemplo são os Estados Unidos, onde o número de instituições educativas que adotam o iPad vem aumentando. Elas usam o tablet para ensinar história através de jogos e matemática em animações.
O depoimento do professor da Universidade de Brasília, Marcos Maia, comprova a tese de Litto. Os dois participaram nesta quinta, em Brasília, do encerramento do Fórum Universitário Pearson.
Maia conta que quando o Conselho Universitário da UnB se reúne para discutir estratégias de educação à distância, há sempre resistência de professores que temem serem substituídos por ferramentas de acesso de conteúdo. “Eles acreditam que a tecnologia é um complô industrial contra a profissão”, conta.
Esse tipo de resistência pode dificultar o projeto do Ministério da Educação de levar tablets a salas de aula porque faz com que os professores não se interessem em aprender a trabalhar com as novas tecnologias. “O computador é apenas um meio e precisamos de uma base pedagógica para esse meio”, diz Maia.
Ensino pode incluir jogos e discussão online
As estratégias para trabalhar com a tecnologia em sala passam tanto pelo uso de jogos e aplicativos de ensino, como por um modelo colaborativo em que os colegas interagem entre si também no mundo virtual. É o caso de grupos de discussão em redes sociais ou em plataformas da própria universidade.
Segundo o especialista em educação da UnB, Lucio Telles, há pesquisas que comprovam que essas estratégias geram mais interesse e diminuem a evasão escolar. “Quando uma turma compartilha grupos e causas nas redes sociais se importam muito mais com o que está sendo debatido do que se a mensagem fosse somente prestada pelo professor”, diz.
Há vantagens também nas pesquisas pela internet. “Pesquisando pela internet, o aluno pode ler muito mais do que o seu livro lhe traz, se a tarefa interpretativa”, afirma Litto. Mas, para que a tarefa não termine em um “copia e cola” da internet, o professor tem que estar preparado para solicitar uma pesquisa que exija interpretação e busca de várias fontes. “O primeiro passo é aceitar que o computador está aí e não vai sair para depois refletir sobre como trabalhar com ele”, diz.
Fonte: Educação a distancia