A Educação tem um papel importante no processo de humanização do homem e de transformação social. Dessa forma, a evolução da Educação está intrinsecamente ligada à evolução da sociedade. Gadotti (1999) coloca que a prática da Educação é muito anterior ao pensamento pedagógico. Este que surge com a reflexão sobre à prática, pela necessidade de sistematizá-la e organizá-la em função de determinados fins e objetivos. Inserido nesse contexto, o professor é um dos principais agentes que possui meios para transformar a Educação através de uma prática pedagógica consciente e renovadora, com metodologias coerentes com a realidade dos educandos.
A concepção de ensino tradicional tão criticada atualmente teve declínio no movimento renascentista, porém sobrevive até hoje. Ao criticar forma de ensinar, Freire (2007) denomina o ensino tradicional como uma concepção bancária de Educação, na qual o professor transmite o conhecimento e o aluno apenas o absorve. Nessa linha de pensamento, o educador é o sujeito do processo de ensino e os educandos, meros objetos. O autor compreende que, quanto mais essa concepção de ensino é desenvolvida menos os educandos desenvolverão sua consciência crítica, de que resultaria a sua inserção no mundo, na busca de transformá-lo.
Como proposta educativa, Freire (2007) propõe uma Educação libertadora e problematizadora do conhecimento, que proporcione a emancipação dos educandos ao mesmo tempo em que promova a autonomia e a consciência crítica dos mesmos. Enquanto o professor educa seus alunos, é educado por estes e vice-versa. Pois, como alerta o autor, ninguém se educa sozinho, os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo. Acredita que não é no silêncio que os homens aprendem e constroem o conhecimento, mas sim na palavra e no trabalho, na ação-reflexão. Nesse sentido, afirma que não há diálogo verdadeiro sem um pensar crítico, tendo em vista que, no momento em que se instaura a percepção crítica na ação, se desenvolve a esperança, a qual leva os homens a empenhar-se na superação de seus limites.
Fernandes et al. (2004) enfocam os termos conhecimento e autonomia, descrevendo a última como a possibilidade dos aprendizes se apropriarem do conhecimento, a fim de refazê-lo de forma crítica, em busca de superarem o senso comum e serem capazes de modificar a cultura da sociedade.
Embasando-se nessas reflexões, formulou-se o seguinte objetivo desta investigação: Analisar o significado da Educação Escolar para professores de Educação Física em diferentes redes de ensino.
Em relação aos procedimentos metodológicos, o estudo caracterizou-se como sendo qualitativo, o qual Santos (2006) relata que o mesmo será sempre subjetivo, já que se insere nas ciências sociais. Apresenta-se imbricado na busca de compreender os fenômenos a partir de atitudes e sentidos que os agentes conferem às suas ações, com vista a construir um conhecimento intersubjetivo, descritivo e compreensivo.
Para a coleta de informações foram feitas entrevistas, sendo esta uma estratégia que se realiza frente a frente com o entrevistado, permitindo se estabelecer um vínculo melhor com o indivíduo e em conseqüência disso, colabora no aprofundamento das questões elaboradas (NEGRINE, 2004). As entrevistas foram semi-estruturadas formadas por questões abertas, que segundo o último autor, caracteriza-se por perguntas predefinidas pelo pesquisador, permitindo explorar aspectos relevantes que surgem ao longo da conversa. Utilizou-se para a interpretação das entrevistas, à análise de conteúdo, a qual apresenta como objetivo: compreender criticamente os sentidos das comunicações; seu conteúdo manifesto ou latente; as significações explícitas ou ocultas (CHIZZOTTI, 2000).
Os participantes do estudo foram três (3) professores de Educação Física das Séries Finais do Ensino Fundamental em três escolas de diferentes redes de ensino (municipal, estadual e particular) do município de Caçapava do Sul do Rio Grande do Sul. Os três professores entrevistados foram escolhidos para o estudo de acordo com sua disponibilidade de tempo. As entrevistas foram gravadas e transcritas, sendo retornadas para os participantes lerem e assinarem a sua publicação. Para manter a discrição dos participantes foi utilizada a seguinte nomenclatura: professor municipal (Professor M); professor estadual (Professor E); professor particular (Professor P).
No âmbito da Educação Escolar entende-se que, desde quando a sociedade é percebida como um grupo organizado, na qual construiu uma certa identidade e história vem conseguindo identificar formas de agir coletivo na busca de desenvolver em crianças e jovens habilidades e conhecimentos que facilitem a convivência em grupo. Esses processos de formação social nos mais variados tempos e espaços constituem uma prática universalmente conhecida como Educação. Assim, não se têm problemas em compreender o caráter da prática social da Educação, porém a identidade da Educação como campo de produção de conhecimento sistematizado merece receber maior atenção, investimento e ser melhor investigada e desenvolvida (BRANDÃO, 2000).
Ao questionar os professores sobre o papel da escola percebemos uma certa dificuldade no entendimento destes, e, conseqüentemente, na elaboração de suas respostas. Eles declararam principalmente que a escola está sendo sobrecarregada e responsabilizada por questões que não lhe dizem respeito, como a formação moral, os valores éticos, o respeito ao próximo. Observa-se esse posicionamento nas seguintes falas:
“(...) o papel dela é bem amplo, porque não era prá ser, mas tá sendo, porque a gente tá sendo pai, mãe, tudo dentro da escola para os alunos, a gente tá pegando o que não seria, mas a gente tá fazendo esse papel porque tá faltando e acho que não deveria de ser, mas tá sendo, e tá difícil, porque, às vezes, fica fora o que teria que ser trabalhado, porque tem que atender outras” (Professor M).
“(...) eu acho que tá faltando coisa por parte da família. A gente se criou que a escola é o segundo lar, e eu acho que é isso que eu espero. Não que ela eduque, e hoje em dia tem muitos pais que colocam os filhos na escola para nós educarmos, e não é isto. E, eu acho que nesse caso a família tá faltando” (Professor P).
Gadotti (1984) nos tráz sua contribuição, no sentido de que muito se fala sobre a importância da Educação como meio de se atingir as mais variadas metas de vida, no entanto, pouco se sabe sobre o sentido da questão fundamental: o que é Educação?
(...) edificou-se o dogma segundo o qual a questão da educação é muito geral e vazia de sentido para que nos ocupemos dela, (...) criou-se um preconceito segundo o qual a universalidade da questão impede de defini-la e explica-la (...). Esta universalidade permite utilizar constantemente o termo “educação” dando-lhe o sentido que convém aos interesses de cada um (GADOTTI, 1984, p. 23-24).
Contudo, o Professor E realiza uma outra reflexão sobre a realidade das escolas ao dizer: “(...) eu acho ainda que ela tá num modelo meio arcaico, meio antigo né. Eu acho que ela teria que fazer uma, a escola fazer uma auto-crítica para rever até sua metodologia, formas de avaliação. Acho que tem que dar uma remodelada, porque do jeito que tá, acho que não tá cumprido com o papel da formação, formação integral assim do aluno”.
Este professor expressa sua preocupação e esboça alternativas que devem ser consideradas pela sociedade. No caso do mais específico, da prática docente, o professor necessita ser capaz de refletir sobre a sua prática definindo os objetivos das aulas de acordo com os conhecimentos que abrangem a área da Educação Física articulando-os com o contexto em que está inserido, considerando as carências e os anseios dos educandos e da comunidade escolar.
Diante desses achados, destaca-se a necessidade de se re-pensar os processos formativos, já que muitos dos saberes essenciais para a prática profissional, como aprender a lidar com situações de conflito na aula, encontram-se além dos conhecimentos científicos produzidos e socializados nos cursos de formação. Além disso, as escolas e os institutos de formação parecem cada vez menos capazes de ensinar tais habilidades.
Nesse sentido, precisa-se investir mais no resgate de conhecimentos essenciais que norteiam todo o processo de ensino em escolas e universidades. Como trazido nesse estudo, à redefinição e a reflexão do que significa a Educação enquanto ação social na sociedade, principalmente na visão de professores, é fundamental para se desenvolver um trabalho coerente e relevante em torno da aprendizagem de alunos e professores.
Franciele Roos da Silva Ilha; Hugo Norberto Krug |
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